Por Rita Maria Nunes, Country Manager TAB Portugal
Muitos empresários estão tão envolvidos no dia a dia do seu negócio que, entre tantas competências técnicas que têm de dominar, desde as operações, a gestão financeira, o conhecimento do setor, os recursos humanos, regulamentações, requisitos legais, etc., deixam de ter tempo e foco para uma aptidão essencial na liderança de uma empresa.
Refiro-me a uma habilidade muito simples, extremamente subvalorizada, de baixo desempenho e, na maioria das vezes, incompreendida. É um conceito aparentemente simples e direto, mas que continua quase que indefinido para muitos empresários, particularmente aqueles que iniciaram os seus negócios há pouco tempo ou que seguiram o seu trajeto sozinhos, ou quase. E qual é então a aptidão misteriosa que separa os bons líderes dos grandes? Confiar. Mas confiar numa via de dois sentidos.
Confuso? Vou esclarecer tudo.
A confiança é uma palavra difícil de definir, especialmente quando o tema está relacionado com liderança de empresas. Isto acontece porque é frequentemente mal utilizada. Uma afirmação do género “Confio que tens as ferramentas necessárias para realizares o teu trabalho” não reflete, na verdade, uma posição de confiança, mas sim uma expectativa de que um requisito seja cumprido. “Acredita em mim, o teu trabalho e dedicação está a ser devidamente notado” é mais um incentivo ao desempenho do que uma declaração de garantia ou validação. Como utilizamos tantas vezes a palavra “confiança” de forma errada, ou mesmo como uma espécie de propósito oculto, o seu verdadeiro significado e intenção é muitas vezes perdido, permitam-me a expressão, em tretas do próprio léxico empresarial.
O que realmente significa confiança?
Segundo Merriam-Webster, a confiança define-se como uma crença garantida no carácter, habilidade, força, competência ou verdade de alguém ou algo. Leia de novo, por favor. E aprofunde a noção do termo, nomeadamente o poder e as potenciais armadilhas que podem estar associadas ao conceito de confiança. Na prática, quem é que garante essa confiança?
A resposta mais curta é de que a confiança não é um visto ou uma cruz que marcamos uma vez e que permanece para sempre ao teste do tempo. Na verdade, e na minha perspetiva, a confiança é um ato de equilíbrio constante, muitas vezes ténue, entre a vulnerabilidade e a responsabilidade. A ideia de confiar noutra pessoa pode evocar, a muitos empresários e pessoas com cargos de liderança, sentimentos desconfortáveis.
Porque é que a confiança se perde tão facilmente?
Mais uma vez, a confiança não se limita a uma ação ou a ser uma mera informação apontada, mas sim um ato contínuo de responsabilidade que, ou é reforçado com a consistência, ou é facilmente colocado em causa pela falta de fiabilidade.
A confiança exige tempo, repetição e intenção. É uma componente essencial para construir uma equipa produtiva e uma cultura empresarial sólida e interessante. Mas, tal e qual como uma bola de demolição, a confiança numa empresa, no seu dono e nas principais relações também pode ser destruída num ápice. Basta um instante, seja por causa de uma promessa que não foi cumprida, uma pequena e inocente mentira ou uma evidente falta de apoio. E os efeitos para a organização podem ser devastadores.
Como difundir a confiança na sua empresa?
Confiar é uma via de dois sentidos. Isto é: a confiança que os seus colaboradores depositam em si e nos outros líderes do negócio é tão importante quanto a confiança que deposita neles. A construção de uma cultura de confiança começa pelo topo e, como líder do seu negócio, não duvide que a bola está do seu lado.
Partilho consigo aqueles que considero serem os sete passos mais relevantes para a construção de uma cultura de confiança na sua empresa:
1. Lidere pelo exemplo. Modele os mesmos comportamentos e ações que espera da sua equipa. Definir um padrão de confiança não constrói apenas a sua própria credibilidade como chefe, mas também estabelece o tom certo para toda a organização.
2. Seja transparente. A sua disponibilidade em relação às diversas dinâmicas do negócio demonstra aos seus funcionários que tem respeito por eles e que confia neles informações que podem afetar a empresa ou os seus empregos.
3. Defina expectativas claras. Estabeleça objetivos claros e mensuráveis que permitam à sua equipa executar melhor os seus projetos e atingir as metas definidas. A clareza reflete uma posição de justiça e transparência e, inevitavelmente, aumenta a confiança entre todos os membros da organização.
4. Promova o sentido de responsabilidade. Assuma o controlo das suas ações e deixe claro que espera o mesmo dos colaboradores. Ao mesmo tempo que todos são responsabilizados pelas suas ações, certifique-se também que lhes fornece os recursos e o apoio necessários para que possam cumprir as suas tarefas com sucesso.
5. Mantenha uma política de portas abertas. Enquanto líder da empresa, torne-se acessível a cada um dos seus trabalhadores. Isso vai demonstrar que valoriza as opiniões deles, está disponível para debater ideias com eles e que está disposto a reservar tempo para estreitar a ligação com eles de forma individual, o que, por si só, será um grande construtor de confiança.
6. Capacite e promova a tomada de decisões. Permitir que os colaboradores possam tomar as suas próprias decisões sobre a melhor forma de desempenhar as suas funções, sublinha a sua confiança nas suas capacidades profissionais e também promove a iniciativa e o pensamento inovador.
7. Reconheça um comportamento confiável. Valide, valorize, e celebre ações de integridade, confiabilidade e outras contribuições positivas. Isto incentivará a equipa a manter elevados padrões pessoais e atuará como catalisador na construção de uma cultura de verdadeira confiança e respeito.
Lembre-se de que a confiança mais facilmente se perde do que se conquista. Como líder do seu negócio, defina o tom da mesma.